'Aline Bei deu a todos naquela noite um motivo pra sorrir e se emocionar, ver alguém de carne, osso e coturno, vivendo e respirando literatura me inspirou' - relato de uma leitora do interior paulista - Viagem Literária

'Aline Bei deu a todos naquela noite um motivo pra sorrir e se emocionar, ver alguém de carne, osso e coturno, vivendo e respirando literatura me inspirou' - relato de uma leitora do interior paulista

Por Bárbara Duarte*

Descobri o projeto “Viagem Literária” esse ano e já estou ansiosa para 2025! Minha sugestão é que ocorra milhares de vezes ao ano para que nós leitores e escritores não tenhamos que esperar tanto tempo. A maravilhosidade da programação e tudo que cerca as rodas de conversas, idas nas escolas, a própria presença dos leitores e escritores num mesmo espaço exalando literatura me incentivam nesse humilde pedido. Pode-se dizer que enfrentamos uma escassez daquilo que para mim alimenta a alma, existe em quem é leitor uma fome danada por palavras. Como tudo que é gostoso queremos comer tantas vezes até que possamos nos saciar, não é? Quero bis!

Sou Bárbara Duarte, mariliense, leitora e escritora do Interior de São Paulo. Minha cidade tem uma biblioteca ativa que chama a comunidade para o seu espaço, um trabalho em equipe dos administradores e os próprios leitores que se engajam em clubes de leitura e atividades culturais. O que me leva a pensar o quão mágico e importante é esse projeto ao colocar o escritor em contato com o leitor, pois embora hoje eu me afirme como escritora, foi um processo através de um olhar distante, não me lembro de encontrar escritores pelo meu caminho, mas havia livros que os trazia de forma indireta. 

Percebo o “Viagem literária” como uma forma de incentivar a leitura, um hábito difícil de promover numa sociedade que nos pede tanto e nos deixa tão pouco, ajuda a criar pontes, tornando possível um intercâmbio de afetos e palavras. O movimento que o projeto faz de dar ferramentas para que o escritor veja como ele impacta através das palavras e dá para o leitor acesso ao instrumento que permite que ele possa ver o mundo através de um olhar mais sensível é de um valor imensurável.


João Anzanello Carrascoza no módulo Encontros com Escritores, em Marília (Foto: Nanda Muniz)

Ao ver que a programação estava cheia de escritores incríveis, meus olhos brilharam. Sou mãe e incentivo minha pequena leitora, ela me acompanhou para a programação de Marília, fomos juntas ver o incrível João Anzanello Carrascoza. Envergonhada, admito que não conhecia sua obra, mas através da divulgação da biblioteca pude ler a tempo do encontro, ou seja, aumentei meu repertório de autores que amo no caminho. A noite foi repleta daquilo que me fascina, literatura. A sala cheia de mãos ansiosas segurando livros, à meia luz, num começo de noite após um dia de muito trabalho para a maioria, mas todos estavam ali, para se nutrir. Foi adorável ouvir Carrascoza, sua infância icônica na pequena cidade do interior regada a muitos causos e nomes de pessoas extraordinárias que passaram por sua vida, me senti menos culpada como escritora por transformar todos aqueles que boto meus olhos em inspiração. Mas foi o momento que peguei a revista do SisEB nas mãos que me obrigou a ir numa sessão de terapia na quinta-feira após sair da programação de Lins.

Era Aline Bei! Na foto preto e branco, sorrindo. Eu suspirei “Poxa queria que ela tivesse vindo também”.  Do suspiro veio minha alegria quando olhei e vi que no dia seguinte ela estaria a 1 hora de distância da minha cidade! Liguei para casa já avisando que no dia seguinte eu pegaria meu livro para autografar, minha bolsa e estaria na porta da biblioteca de Lins, pronta pra ouvir a escritora que me inspira e acaba comigo… ela faz isso, vocês sabem, vocês já leram ela também que eu sei!

O que não imaginava, é que daria tudo certo! Arrumei uma carona e fui. Agora percebo que mesmo perto, não foi fácil como mãe modificar a rotina de trabalho e maternidade para me locomover, mas movi tudo e todos que eu podia para estar lá, a proximidade foi essencial, perdi nos dedos a quantidade de vezes que acabei não conseguindo ir em feiras, bienais e festivais, pela distância e recursos. Mas aquele era o momento. 

Fiquei sentada esperando a escritora, sem palavras porque quando mais importa elas não saem, aguardei atenta com o livro na mão para ouvi-la. Queria esmiuçar o processo, que ela me contasse os segredos nas entrelinhas do texto, queria explicações, queria olhar nos olhos de quem me perturba com perguntas e devolvê-las como vingança! Mas qual foi meu espanto que ao vê-la eu não consegui elaborar qualquer sentimento! Estava extasiada, emocionada a ponto de correrem lágrimas e mais lágrimas, não havia represa que as segurassem, transbordavam. Minha amiga que me acompanhou ficou surpresa pela reação, eu fiquei também, confesso, queria parecer uma leitora normal, falhei, mas afinal quando nós leitores somos normais? Aline, se ler isso, espero que entenda que sou mais comedida no dia a dia.